O Cochrane Stroke é um dos grupos mais antigos da Cochrane, e já produziu cerca de 200 revisões de muitas intervenções para AVC e outros tipos de lesões encefálicas. Em janeiro de 2017, Wendy Magee, da Filadélfia, nos Estados Unidos, e uma equipe de pesquisadoras atualizou uma revisão que avaliou as evidências em intervenções musicais. Eu irei descrever os resultados nesse podcast.
Camila: Olá, eu sou a Camila Acosta Gonçalves, musicoterapeuta clínica, professora e pesquisadora em Curitiba, Brasil. O Cochrane Stroke é um dos grupos mais antigos da Cochrane, e já produziu cerca de 200 revisões de muitas intervenções para AVC e outros tipos de lesões encefálicas. Em janeiro de 2017, Wendy Magee, da Filadélfia, nos Estados Unidos, e uma equipe de pesquisadoras atualizou uma revisão que avaliou as evidências em intervenções musicais. Eu irei descrever os resultados nesse podcast.
A equipe de autoras que trabalhou nessa revisão da Cochrane reside nos Estados Unidos e na Austrália. Juntas, as autoras têm cerca de 60 anos de experiência trabalhando com pessoas com lesão encefálica adquirida e puderam presenciar os grandes benefícios que as intervenções musicais trouxeram para essa população. Entretanto, era importante avaliar formalmente os efeitos dessas intervenções e isso foi possível quando as autoras reuniram as evidências das pesquisas relevantes.
Em sua versão anterior, a revisão incluía apenas estudos que testaram intervenções realizadas por musicoterapeutas treinados. Porém, nessa atualização, as autoras incluíram estudos que testaram intervenções musicais realizadas por qualquer profissional da saúde.
A versão atualizada dessa revisão inclui 29 estudos controlados, num total de aproximadamente 800 participantes. Foram 22 estudos a mais do que na revisão anterior.
Dezesseis estudos avaliaram os efeitos de métodos baseados em ritmo na marcha ou na função de membro superior em pacientes que haviam sofrido AVC. Esses estudos utilizaram a estimulação rítmico-auditiva ou a iniciação do movimento por meio do ritmo, ou uma modificação desses, com o uso da pulsação de um metrônomo para facilitar os movimentos. Nove dos estudos realizaram a intervenção sem música, enquanto seis inseriram a pulsação externa do metrônomo na música ao vivo ou gravada. Os outros treze estudos da revisão testaram várias outras intervenções, incluindo a escuta de músicas ao vivo ou gravadas, métodos musicais de treinamento vocal, escrita de canções, e fazer musical ativo usando instrumentos musicais e aparelhos eletrônicos.
As autoras da revisão combinaram os resultados de dez dos estudos de estimulação rítmico-auditiva. Essa análise mostrou que esse método pode melhorar a marcha dos pacientes com AVC e que o efeito da intervenção é maior quando um musicoterapeuta treinado realiza a intervenção, e quando a pulsação do metrônomo é inserida na música ao invés de ser usada sem música. Os resultados de dois estudos indicam que as intervenções musicais podem ajudar a acelerar a recuperação dos movimentos dos membros superiores em pacientes com AVC.
As evidências atuais também sugerem que as intervenções musicais podem trazer benefícios para a comunicação de pessoas com problemas de linguagem pós-AVC, assim como na melhoria da qualidade de vida e de estados de humor pós-AVC. Porém, não existem evidências fortes quanto aos efeitos na memória e na atenção. E os dados foram insuficientes para avaliar o efeito das intervenções musicais em outros resultados em pessoas com outros tipos de lesão encefálica adquirida.
Apesar de os resultados serem promissores e confirmarem as experiências das pesquisadoras com seus pacientes, mais pesquisas são necessárias para fortalecer a base de evidências e resolver incertezas remanescentes. Por exemplo, as autoras da revisão gostariam de ver mais estudos randomizados com pessoas com lesão encefálica adquirida. Esses estudos deveriam recrutar um número suficiente de participantes para poder detectar diferenças moderadas que podem ser interessantes aos pacientes. Os novos estudos também deveriam incluir resultados relacionados às funções cognitivas, humor e emoções, habilidades sociais e interações, atividades de vida diária, e resultados relacionados a comportamentos, como agitação, além dos resultados que já foram avaliados nessa revisão.
Se você quiser conhecer mais sobre as evidências disponíveis, você encontrará essa revisão online na Cochrane Library ponto com, com uma simples busca por 'music and ABI'. Esse é também o local para procurar futuras atualizações, quando houver novos estudos.