A amitriptilina é um antidepressivo tricíclico que vem sendo utilizado há décadas para o tratamento da depressão. Esta revisão incluiu 39 estudos randomizados com um total de 3.509 participantes e confirmou a eficácia desse remédio em comparação com o placebo ou nenhum tratamento. Este achado é importante porque a eficácia dos antidepressivos foi recentemente questionada. No entanto, a revisão também demonstrou que a amitriptilina produz uma série de efeitos colaterais, como problemas de visão, constipação e sedação. Muitos estudos incluídos nesta revisão foram mal escritos, o que pode ter levado a um viés; isso trouxe alguma limitação para a revisão.
A amitriptilina é um medicamento antidepressivo eficaz. Porém, também está associado a uma série de efeitos colaterais. O grau de resposta ao placebo e a gravidade da depressão dos pacientes ao iniciar o tratamento podem moderar as diferenças de eficácia entre o medicamento e o placebo.
A amitriptilina é um antidepressivo tricíclico sintetizado em 1960 e introduzido nos Estados Unidos já em 1961. Esse medicamento ainda é prescrito regularmente e frequentemente é usado como um comparador ativo em ensaios clínicos que testam novos antidepressivos. Portanto, a amitriptilina pode ser considerado um antidepressivo padrão ou modelo. Entretanto, sua eficácia e segurança em comparação com o placebo no tratamento do transtorno depressivo maior não foi avaliada numa revisão sistemática e metanálise.
Avaliar os efeitos da amitriptilina, em comparação com o placebo ou nenhum tratamento, para adultos com transtorno depressivo maior.
Fizemos buscas no Specialised Register do Cochrane Depression, Anxiety and Neurosis Group (CCDANCTR-Studies e CCDANCTR-References) por estudos publicados até agosto de 2012. Este registro contém ensaios clínicos randomizados (ECRs) indexados na Cochrane Library (todos os anos), EMBASE (1974 até hoje), MEDLINE (1950 até hoje) e PsycINFO (1967 até hoje). Avaliamos as listas de referências de todos os estudos incluídos e contatamos os fabricantes de amitriptilina em busca de estudos adicionais.
Incluímos todos os ECRs que compararam amitriptilina versus placebo ou nenhum tratamento em pacientes com diagnóstico de transtorno depressivo maior diagnosticado com base em critérios operacionalizados.
Dois autores da revisão, trabalhando de forma independente, extraíram os dados. Para os dados dicotômicos, calculamos o odds ratio (OR) com o intervalo de confiança (IC) de 95%. Analisamos os dados contínuos usando diferenças de médias padronizadas (com IC 95%). Usamos o modelo de efeitos aleatórios em todas metanálises.
A revisão inclui 39 ECRs com um total de 3.509 participantes. A duração de cada estudo foi de 3-12 semanas. A amitriptilina foi significativamente mais efetiva do que o placebo na obtenção de uma resposta aguda (18 ECRs, n = 1.987, OR 2,67, IC 95% 2,21 a 3,23). O número de participantes que abandonou o estudo devido à ineficácia do tratamento foi significativamente menor no grupo da amitriptilina do que no grupo placebo:19 ECRs, n = 2.017, OR 0,20, IC 95% 0,14 a 0,28. Porém, mais participantes tratados com amitriptilina abandonaram o estudo devido a eventos adversos: 19 ECRs, N = 2.174, OR 4,15, IC 95% 2,71 a 6,35). A amitriptilina também causou mais efeitos colaterais anticolinérgicos, taquicardia, tontura, nervosismo, sedação, tremor, dispepsia, sedação, disfunção sexual e ganho de peso. Nas análises de subgrupos e na metarregressão, os resultados do desfecho primário se mantiveram consistentes em relação às seguintes variáveis: ano de publicação (1971 a 1997), idade média dos participantes no início do estudo, dose média de amitriptilina, duração do estudo em semanas, patrocínio do estudo pela indústria farmacêutica, pacientes internados versus ambulatoriais e número de braços (dois versus três) do estudo . No entanto, a inclusão de pacientes mais graves no início do estudo foi associada com maior superioridade da amitriptilina (P = 0,02), enquanto uma taxa de resposta mais alta nos grupos placebo foi associada com menor superioridade da amitriptilina (P = 0,05). Os resultados para o desfecho primário foram bastante homogêneos, refletindo a comparabilidade dos estudos. Porém, a maioria dos estudos descrevia mal os métodos usados para randomização, o sigilo de alocação e o cegamento. Nem todos os estudos utilizaram análises por intenção de tratar e muitos deles não apresentavam os desvios padrão dos seus dados, que precisaram ser imputados. Os gráficos em funil sugeriram um possível viés de publicação, mas o método de “trim and fill” não alterou muito a estimativa total do tamanho do efeito (7 estudos ajustados, OR 2,64, IC 95% 2,24 a 3,10).
Tradução do Cochrane Brazil (Thiago Souza Coelho). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br